Sistema imunológico dos europeus é mais fraco em relação aos africanos
- Henrique Rufo
- 26 de out. de 2016
- 3 min de leitura
Um novo estudo descobriu que os europeus são mais propensos a desenvolver infecções, enquanto os africanos são mais suscetíveis a doenças inflamatórias auto-imunes.

Uma pesquisa publicada na revista Cell descobriu que os africanos têm uma resposta imune mais forte à infecção quando comparado com os europeus, em parte porque os primeiros europeus se reproduziram, e trocaram material genético, com os neandertais. O autor Lluis Quintana-Murci do Instituto Pasteur e do CNRS de Paris, deu uma entrevista ao ResearchGate onde esclarece as diferenças entres esses sistemas imunológicos e suas vantagens e desvantagens.
ResearchGate: Você poderia explicar brevemente as conclusões do seu estudo e seu significado? Lluis Quintana-Murci: Nossos resultados mostram que as diferenças populacionais em respostas imunes de transcrição são generalizados, e que eles são contabilizados principalmente por variantes genéticas que diferem em suas frequências entre populações humanas. A seleção natural tem favorecido essas diferenças populacionais, destacando a adaptação genética para ambientes patogênicos locais. Finalmente, descobrimos que o cruzamento com Neandertais tem sido uma fonte adicional de inovação genética em populações europeias primitivas e tem desempenhado um papel na formação de suas respostas imunes.
RG: Você poderia explicar o método que utilizou para chegar a esses resultados? Quintana-Murci: Foram comparadas as respostas de transcrição (por sequenciamento de RNA) de monócitos de indivíduos com ancestralidade europeia e africana em diferentes estimulações imunológicas, imitando desafios bacterianos e virais, assim como o vírus influenza. Em seguida, estudou-se os perfis genéticos de todos os indivíduos a fim de determinar em que medida a genética controla a resposta imune à infecção.
RG: O que você espera encontrar? Quintana-Murci: Na verdade, nós não tivemos a priori a intenção de saber o grau em que diferem africanos e europeus em suas respostas imunes. Fomos surpreendidos com algumas descobertas. Em primeiro lugar, que uma única variação no gene TLR1 poderia explicar uma proporção tão alta de diferenças nas respostas inflamatórias a estímulos bacterianas entre europeus e africanos, sabendo que estudos anteriores demonstraram que a mesma variante genética foi alvo de seleção nos europeus. Isto sugere fortemente que uma resposta inflamatória diminuída conferiu uma vantagem seletiva às populações europeias. Em segundo lugar, ficamos surpresos ao descobrir que os europeus tinham "pego emprestado" variantes de regulamentação dos Neanderthals, especialmente variantes de regulação das respostas transcricionais à alterações virais.
RG: Você menciona que parece que as populações europeias foram selecionadas para exibir respostas imunes reduzidas. Qual seria a vantagem evolutiva disso? Quintana-Murci: Reduzir respostas inflamatórias do sistema imunológico é uma maneira de evitar a auto-imunidade e reações inflamatórias e alérgicas. A constatação de que as respostas imunes reduzidas conferiram uma vantagem encontram-se no equilíbrio em reconhecer patógenos, evitando reações exageradas que podem acabar prejudicando o hospedeiro.
RG: Quais são os próximos passos nesta pesquisa? Quintana-Murci: Uma fração das diferenças populacionais nas respostas de transcrição para a estimulação imune observada não é explicada pela genética, sugerindo que outros mecanismos, tais como a variação epigenética, pode explicar esta discrepância populacional. Sabendo que a epigenética é altamente dinâmica, o próximo passo será o de explorar se e como as mudanças epigenéticas (metilação, modificações de histonas, locais de hipersensibilidade DNA, por exemplo) ocorrem durante a infecção, e como essas mudanças impactam na expressão de genes relacionados ao sistema imunológico, incluindo aqueles que mostram uma expressão diferencial entre as populações. Além disso, neste trabalho nós nos concentramos em um fenótipo molecular intermediário, ou seja, a expressão do gene. O próximo passo agora é compreender como as diferenças de expressão gênica são traduzidas em diferenças na abundância de proteínas. Além disso, ainda há muito trabalho a ser feito sobre a forma como o sexo e o envelhecimento também afetam a regulação da expressão gênica no contexto das respostas imunes e, em geral, nas nossas diferentes susceptibilidades à infecção, tanto a nível individual e populacional.
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